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Salvador - Especial 463 anos: Através do grafite, Denissena espalha arte e cidadania nas ruas do Cabula



Laura Fernandes

laura.fernandes@redebahia.com.br

Ufa Menezes, 23 anos, está sentado no banco de uma praça. Braços apoiados na perna, cabeça erguida e olhar vago. Admirador da cultura hip hop, principalmente do grafite, seus olhos brilham quando o assunto é a arte exposta com liberdade nas ruas das cidades.

Ufa, que prefere manter a assinatura e não revelar o nome original, é um dos jovens que têm o grafite como ferramenta para levar a vida de uma maneira diferente: “Me ajuda a ser mais humano, a respeitar o próximo”, diz.

Desde criança, conta Ufa, observava os ‘rabiscos’ nas ruas de Salvador. Mas foi em 2007, no Cabula, que teve um dos contatos mais significativos com essa arte. É lá que um dos mais importantes grafiteiros baianos, Denis Sena, 35, dá oficinas gratuitas.

Nascido e criado nesse bairro, Denissena, como é conhecido e assina seus trabalhos, atua desde o ano de 2000 como arte-educador na ONG Projeto Cidadão, que funciona no fim de linha do Conjunto Antonio Carlos Magalhães.

Com o trabalho voluntário, que tem parceria com a Escola Municipal Cabula I, ele busca contribuir com a “formação das artes plásticas, cidadania e direitos humanos” da garotada. “Isso mexe muito com a autoestima. A arte tem esse poder”, defende Denis.

Com trabalhos expostos em cidades como Nova York, Tóquio e Luanda, ele explica que o grafite é uma linguagem urbana de forte teor político. “É uma forma de romper o preconceito, é uma linguagem de protesto”, afirma Denis. Por isso, diz, os grafiteiros valorizam muito suas assinaturas artísticas. “Faz parte da identidade da cultura hip hop, para não ser identificado”.

Investimento
Um dos ex-alunos de Denis, Charles Brak, 29, hoje investe em sua comunidade dando aulas de grafite, skate e basquete. “Quando comecei no Projeto Cidadão eu já fazia uns rabiscos, mas não tinha noção de conceito da cultura hip hop”, lembra Drak. “Não passava na minha cabeça ser um multiplicador da arte, mas hoje tento incentivar a autoestima das pessoas aqui no Cabula”.

O grafite também influenciou a estudante de design gráfico Tamara Nascimento, 20, a Tami. “Ele trabalha linguagens e mensagens para o bairro. Meus pais achavam que era vandalismo e eu mudei a visão deles. A partir das oficinas, adquiri cultura: aprendi sobre música, pintura, recebi indicações de livros...”.

Orgulhosa de ser a primeira grafiteira do bairro, a dedicada estudante concilia sua arte com os estudos e entrevistas de emprego. “O início foi muito difícil, mas eu disse ‘vou investir, tendo dinheiro ou não, vou fazer o que gosto’. E acabei conseguindo uma bolsa. Minha mãe ficou muito feliz”, vibra Tami.

Democracia
As técnicas de volume, forma e cor que Max Ramon Oliveira, ou Lazi, 28, aprendeu com o grafite foram fundamentais para o seu trabalho de pintor. Hoje, ele concilia as duas vocações e destaca a “positividade” de poder
se expressar com a arte das ruas: “Mudei muito. Eu me sinto valorizado”.

Além da autoestima, Denis chama a atenção para o fato de o grafite ser democrático. Ele acredita que uma de suas contribuições é, justamente, proporcionar a inclusão social por meio das oficinas.

Assim como Denis, Ufa ressalta que o espaço urbano aproxima a arte daquelas pessoas que não têm oportunidade ou hábito de ir a um museu ou a uma exposição. As ruas do Cabula, por exemplo, estampam intervenções por todos os lados e servem de inspiração para quem passa. “Na verdade, o grafite passa a ser uma galeria de arte a céu aberto”, reflete Denis.

http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/especial-463-anos-atraves-do-grafite-denissena-espalha-arte-e-cidadania-nas-ruas-do-cabula/

www.denissena.com




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