Pages

G1 - Lei


Grafiteiros baianos comentam lei que proíbe venda de spray para menores.

Para alguns, lei irá instigar ainda mais os vândalos.
Para o mercado da arte, lei legitima o trabalho artístico dos grafiteiros.

Texto: Ingrid Maria Machado_ Matéria do G1 BA

Grafite de Denissena e Calangos (Foto: Divulgação).
A notícia pegou muito grafiteiro baiano de surpresa. O governo federal publicou nesta quinta-feira (26), no Diário Oficial da União a Lei 12.408 que proíbe a comercialização de tintas em embalagens aerossol a menores de 18 anos.

Para o grafiteiro baiano Denissena (http://www.denissena.com), presente na cena urbana baiana há mais de 10 anos, a "lei tem pontos positivos e negativos".

Ele explica que a pichação sempre andou lado a lado com o grafite, porque utilizam os mesmos suportes e as mesmas ferramentas, mas a principal diferença é o que está na cabeça de quem está atuando. "O que muda, na verdade é a consciência", diz o artista.

O operário cultural, como ele próprio se define, acha que o ponto positivo da lei é o reconhecimento do grafite como arte e o ponto negativo é que a pichação não vai diminuir com a lei.

"Com essa lei, a sociedade passa a reconhecer o grafiteiro como artista e não como marginal, algo que as galerias de arte no Brasil passaram a reconhecer na década de 80. Na Bahia o reconhecimento só aconteceu 10 anos depois", conta.

Assim como Denis, o coordenador do Projeto Cidadão, Jorge Nascimento, acredita que a Lei não irá diminuir as pichações. "Nosso trabalho é de consciência nas escolas públicas e particulares. Dentro da escola, os alunos picham carteiras e porta de banheiro. Com os seminários que apresentamos, os alunos passam a entender a diferença entre arte e vandalismo. Proibir a venda de spray só vai instigar mais os jovens que querem rebeldia", explica. O Projeto Cidadão atende a jovens e adolescentes com trabalhos de arte educação e o cargo chefe da ONG são as aulas de grafite.

Ex-pichador

A tinta marcou cedo os dedos de Elder Muniz, mais conhecido na cena urbana de Salvador como Calango. Aos 14 anos ele se denominava como pichador. "Eu escrevia frases de protestos nos muros da cidade. Parei com essa brincadeira quando completei dezoito anos e a lei já poderia me punir", relata o artista, hoje com 28 anos.

Calango é um dos mais promissores grafiteiros da Bahia. Seu estilo mistura cores vibrantes com detalhes minúsculos. "Passei a grafitar logo depois que parei de pichar. Envolvido com o mundo das artes, deixei de utilizar o muro como um suporte para o protesto e comecei a reconhecê-lo como tela". Assim como o colega de profissão, Denissena, Calango acredita que a lei não irá diminuir as pichações na cidade. "Eu acho que a lei não muda nada. Isso vai motivar ainda mais, já que para muita gente, quanto mais ilegal, mais atraente", diz. "O que deve haver é uma cultura da consciência", finaliza.

Um dos artigos da lei 12.408 define a diferença entre o que é pichação e o que grafite. O crítico de arte César Romero acha que a lei é ineficiente. "Não dá para entender os motivos lógicos da lei. Só um especialista pode diferenciar o que é um e o que é o outro. As vezes a pichação é confundida com o grafite e vice-versa", explica.

Nenhum comentário: